ESCOLA REGIONAL DA JUVENTUDE – ERJ
Contextualizando a ERJ
A realidade da região é marcada por uma frágil situação econômica e social, o êxodo rural da juventude é muito significativo, em especial entre os jovens que acabam sendo expulsos para as cidades por falta de perspectiva de permanência no campo.
Vivenciamos nessa realidade marcada por uma diversidade de desafios. A juventude enfrenta um contexto de negação de direitos fundamentais como o acesso à educação em todos os níveis, à cultura, ao lazer, à terra, às condições de trabalho e renda e aos bens de consumo. Destacamos ainda a falta de espaços para que o jovem possa constituir-se como sujeito no próprio processo organizativo da família, da comunidade, dos Movimentos Sociais e da sociedade.
O modelo capitalista de agricultura, conhecido como agronegócio, é avassalador para a vida no campo e expulsa a juventude em direção às cidades. Dessa forma, o êxodo rural não ocorre por simples desinteresse ou pelas atrações da cidade. Nesse contexto, identificamos a necessidade de avançarmos na organização e formação da juventude, para que possa se constituir como protagonistas dos espaços em que estão inseridos, a partir da auto-organização e da participação efetiva nos distintos espaços organizativos e de produção.
Nesta perspectiva, o CEAGRO tem debruçado esforço de construir espaços de formação/capacitação e organização para garantir a participação dos jovens da Reforma Agrária, como uma forma de diminuir o êxodo do campo para a cidade, a fim de garantir uma maior participação política e econômica dos jovens na região. Compreendemos, desta forma, que as ações desenvolvidas por meio de iniciativas como a Escola Regional da Juventude, fortalecem esse processo, sendo um dos instrumentos motivadores para a juventude, para participar nas atividades gerais organizativas e produtivas dos assentamentos e acampamentos, desenvolvendo neles o sentimento de pertença e fortalecendo a identidade camponesa, permitindo que estes permaneçam vivendo e trabalhando no campo, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social das áreas de reforma agrária do território.
Objetivo:
Incentivar a participação da juventude camponesa do Território Cantuquiriguaçu em ações culturais e produtivas que venham a contribuir com o desenvolvimento sustentável, econômico e social da região e com a organização dos jovens nas áreas de reforma agrária.
Descrição da experiência da Escola Regional da Juventude
A proposta da ERJ é a tentativa de consolidar um trabalho permanente de formação e organização com a juventude das áreas de reforma agrária, na perspectiva de fortalecer e ampliar a organização dos jovens do campo.
A iniciativa nasceu a partir da definição de algumas estratégias de atuação com a juventude, que fazem parte da experiência histórica do trabalho realizado pelo CEAGRO e Movimento Sem Terra, do qual, a partir das especificidades do processo de formação dos jovens, a saber: Formação, Organização, Autossustentação, Agroecologia, Luta, Agitação e Propaganda, compreendendo-as em sintonia com o processo da construção da Reforma Agrária Popular, ao passo que insere o jovem como sujeito ativo na transformação de sua realidade e de parte importante de seu próprio processo de formação.
A partir dessas estratégias, na tentativa de inserir as novas gerações na luta e organização dos trabalhadores, atrelada ao processo de acesso ao conhecimento, condição essencial na formação da juventude Sem Terra, que o CEAGRO e Coletivo de Juventude do MST na região, têm tentado criar e desenvolver mecanismos, práticas pedagógicas e ambientes educativos como é o caso da ERJ.
O processo da Escola da Juventude é organizado em Regime de Alternância, com 3 etapas de formação, que envolvem atividades de Tempo Escola e Tempo Comunidade. Já foram formadas 4 turmas: a primeira turma no período de 2012-2013, a segunda turma em 2013-2014, a terceira turma no período de 2015-2016 e a quarta turma em 2017.
O ponto de partida desse processo é não ser curso teórico apenas. Busca-se articular a formação a partir da relação teoria e prática, desde processos concretos de auto-organização, autogestão, leitura e análise da realidade, em que os jovens se depararem com problemas reais que exigem estar organizados para resolvê-los, motivando a organização de ações nos locais onde estão inseridos, vinculadas ao Coletivo da Juventude do MST e ao CEAGRO.
Outra dimensão importante dessa proposta é a necessidade de articular o acesso à teoria a partir dos problemas que as práticas suscitam (desde os momentos de estudo até as oficinas), de forma que dialoguem com reflexões e debates em torno do papel/função da juventude nos processo históricos de organização da classe trabalhadora.
Os principais temas do programa de formação da Escola da Juventude são: O Papel do Trabalho e da Organização na Formação Humana; Questão Agrária e História da Luta pela Terra; Gênese e Natureza do Estado, Desenvolvimento do Capitalismo no Campo e o Agronegócio; Como Funciona a Sociedade (noções de Economia Política); Método de Trabalho de Base e da Organização Popular; Desenvolvimento Territorial; Agroecologia e Cooperação; Indústria Cultural e Cultura Política; Agitação e Propaganda; Gênero e Sexualidade; Educação do Campo.
A metodologia utilizada se deu por meio de cursos de formação e capacitação teórica, bem como oficinas práticas. Também inclui a organização de intercâmbios para conhecer experiências em que os jovens estão inseridos no processo produtivo e organizativo. Além dos momentos de estudo na programação, com palestras/seminários, se desenvolve o trabalho com oficinas articuladas e ligadas à prática em diferentes dimensões: Arte e Educação, Agitação e Propaganda e produção/Agroecologia, que podem ser o motivador de organização de grupos nas escolas, assentamentos e acampamentos e de geração de renda.
Resultados:
A partir dos 6 anos de experiência, podemos dizer que este trabalho de formação e organização com a juventude conseguiu atingir os seguintes resultados:
- Inclusão a juventude no processo produtivo, desde a família, comunidade, e empreendimentos, visando o acesso ao trabalho e renda, para que os jovens permaneçam no assentamento/comunidade e melhorem sua qualidade de vida;
- Maior participação (política e econômica) dos jovens no processo produtivo, cultural e organizativo, contribuindo para a permanência da juventude no campo e seu com o desenvolvimento econômico regional e da agricultura camponesa, como forma de diminuir o êxodo rural;
- Possibilitou à juventude o conhecimento sobre a produção agrícola e a agroecologia, formando jovens que atuam como produtores e multiplicadores de informações, técnicas e conhecimento na área.
Depoimento da equipe técnica do CEAGRO sobre a ERJ:
“No decorrer deste processo de formação construímos iniciativas de trabalho com a juventude na dimensão da produção, da formação e da capacitação. Como saldo organizativo podemos perceber a maior participação dos jovens, a organização de grupos e coletivos de jovens nas áreas, e a inclusão dos jovens no processo produtivo e na Agroecologia, em sintonia com as estratégias de desenvolvimento sustável que o CEAGRO trabalha na região”. Thaile C. L. Vieira
Com a palavra a juventude:
“A Escola da Juventude foi muito importante para a formação dos jovens que participam, os temas trabalhados condizem com nossa realidade e mostram alternativas para mudar e avançar. Esse trabalho nos ensina que a juventude deve e está se inserindo na produção, estes processos vem garantindo mais organização, espaços de trabalho e formação, renda, e lazer nas comunidades Sem Terra, e assim possibilitando nossa permanência no campo com dignidade e mais qualidade de vida”. Juliana Cristina de Mello (jovem que participou da experiência da ERJ)
POSSIBILIDADE DE REPLICABILIDADE: a experiência pode ser replicada com públicos semelhantes – jovens camponeses, de áreas de reforma agrária, comunidades de pequenos agricultores e da agricultura familiar. Com adequações nos temas e na metodologia também pode ser desenvolvida com jovens de áreas urbanas.
Para mais informações:
E-mail: juventude@ceagro.org