Festas com almoços gratuitos marcam três anos de acampamentos do MST em Quedas do Iguaçu

Saladas, massas e até mesmo os 600kg de carne servidos no almoço são frutos da produção dos próprios acampados.

Por Jaine Amorin

O último sábado, (9/03), foi o dia de comemorar a resistência nos acampamentos Fernando de Lara e Vilmar Bordin, ambos localizados no município de Quedas do Iguaçu, Centro do Paraná. É a região com maior concentração de acampamentos e assentamentos de reforma agrária do Brasil organizados pelo MST.

Comunicação/MST

As festas iniciaram com místicas que retrataram a história dos acampamentos desde a ocupação, trazendo todas as conquistas, como saúde, educação, cultura, produção e comercialização de alimentos, dentre outras. Para mostrar a produção e reafirmar que as famílias acampadas produzem alimentos, os almoços servidos de forma gratuita em ambas as festas era de produção local, desde saladas, massas e até mesmo os 600kg de carne.

Comunicação/MST

As áreas foram ocupadas no mesmo dia, 9 de março de 2016, e com o mesmo objetivo de servir à classe trabalhadora. Cerca de 200 famílias organizadas pelo Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam as áreas, nesses três anos de ocupação as famílias já resistiram à reintegração de posse e a uma emboscada da polícia, que levou ao assassinato de dois integrantes do MST, Leonir Orback e Vilmar Bordin (nome dado a uma das ocupações). Até o momento, mesmo com sinais claros de execução, nenhum policial foi indiciado. No entanto, o companheirismo e a união das famílias não permitiram que os crimes as abalassem e nem impediu que permanecessem produzissem alimentos para sua subsistência e geração de renda e continuassem organizadas nos coletivos e setores.

Para Jiceli Maria Ferreira, integrante do acampamento Vilmar Bordin que está desde o início da ocupação e atualmente contribuindo na secretaria do acampamento, o sentimento de fazer parte da história dessa ocupação “é um sonho (…). Hoje em dia, se as pessoas conhecerem o MST, não falavam mal de nós e sim ajudavam”.

Organização coletiva

Comunicação/MST

Destaca-se nessas áreas a organização do Coletivo de Mulheres, que incentiva o empoderamento feminino em formações, produção de artesanatos e na organização das cozinhas coletivas dos espaços. A organização do Setor de Educação, que transformou as casas que haviam na fazenda em salas de aula da escola itinerante Vagner Lopes, onde 80 crianças estudam.

Também se destaca a organização do Grupo de Orgânicos em construção no Acampamento Fernando de Lara, e já certificado pela Rede Ecovida de Certificação na área do Acampamento Vilmar Bordin, que produz e comercializa uma diversidade de alimentos, desde hortaliças, raízes, sementes, frutas e etc.

Mesmo com um governo que promete acabar com o MST, a luta dos trabalhadores e trabalhadoras continuam. Para a estudante Jiceli, o MST está pronto para resistir. “Surgimos no tempo ditadura, estamos até hoje organizados e pronto pra tudo”. E afirma: “Não importa o que o governo fale de nós, sempre estaremos prontos pra enfrentar (…), lutaremos e mostraremos para o povo brasileiro o erro que fizeram colocando o Bolsonaro na presidência”, conta a jovem, que é estudante da Escola Vagner Lopes.

A ocupação da terra é apenas o primeiro passo para a conquista da reforma agrária popular, depois vem a resistência para a conquista efetiva da terra ocupada e, mesmo depois da conquista efetiva, a luta ainda não para, pois todos os direitos humanos, sociais e de produzir e consumir alimentos saudáveis devem ser garantido a essas famílias e a toda sociedade. Portanto, a luta é contínua. A reforma agrária popular não apenas dá certo, como é o caminho para o desenvolvimento de uma nação que está com 200 anos de atraso no que tange a reforma agrária.

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