Agroflorestas se espalham pelo país: cultivo sem desmatamento

RIO — À primeira vista, pode parecer uma mata crescendo sem interferência humana, tal a quantidade de árvores. Mas, caminhando pela área, o visitante identifica a grande variedade de alimentos brotando de arbustos e das próprias árvores. Limão, açaí, manga, acerola, caju, banana, laranja e muito mais. Nada está ali por acaso. As espécies que geram esses frutos foram cuidadosamente plantadas neste terreno em Silva Jardim, no interior do estado. Trata-se de uma agrofloresta.

— Quando me falaram, achei que era coisa de maluco. ‘Plantar sem desmatar a floresta? Vai semear como? Vai ter que fazer casa em árvore e morar que nem índio’ — conta a agricultora Marlene Assunção, de 52 anos, dona da propriedade. — Hoje eu entendo. As coisas vão estar aqui para nossos netos. É menos egoísta.

As agroflorestas, também chamadas de sistemas agroflorestais (SAF), vêm ganhando relevância no país como uma alternativa que alia a produção de alimentos, necessária num mundo de população crescente (seremos 8,5 bilhões de Homo sapiens em 2030, segundo estimativas da ONU), com a preservação de florestas, não menos importante num planeta que precisa manter seus recursos naturais e, assim, frear as mudanças climáticas. O conceito preconiza que a agricultura pode se beneficiar, e muito, de áreas intensamente arborizadas.

A prática agroflorestal já existe há décadas, mas agora começa a receber a devida atenção, disseminando-se pelo país. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, está dando início a um projeto para identificar, mapear e estimular agroflorestas nas regiões Sul e Sudeste. No Estado do Rio, há exemplos de SAFs concentrados, principalmente, em Paraty, no Maciço da Pedra Branca (Zona Oeste do Rio) e na região de Casimiro de Abreu, onde uma oficina do Projeto Agenda Gotsch está capacitando 60 agricultores para adotar essas práticas em suas terras. O curso começou na quinta-feira e termina hoje.

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Agricultura sintrópica

A oficina é ministrada pelo pesquisador suíço Ernst Götsch, um dos pioneiros desse método de cultivo no país. O agricultor veio para o Brasil na década de 1980, estabelecendo-se numa fazenda no Sul da Bahia. Desde então, desenvolve técnicas de recuperação de solo com métodos de plantio que mimetizam a regeneração natural de florestas.

— Queremos trabalhar para criar agroecossistemas, que promovem essa integração. Em vez de estabelecer áreas de proteção permanente, constituir sistemas de integração permanente, que permitam ao agricultor produzir melhorando o solo e criando um ecossistema mais próspero — afirma Götsch, que está gravando uma série de vídeos para divulgar suas técnicas na internet.

O europeu usa a expressão “agricultura sintrópica” para definir o conceito que busca divulgar. Trata-se do uso de dinâmicas naturais para enriquecer ou recuperar o solo, que se torna apto para a produção agrícola sem a necessidade de fertilizantes químicos, apenas usando os recursos naturais. E sem devastação da mata.

Mas, para aproveitar ao máximo o que a natureza oferece para o cultivo, o manejo da floresta é fundamental. Quem explica é o técnico ambiental Nelson Barbosa, coordenador do Programa de Extensão Ambiental da Associação Mico-Leão-Dourado, em Silva Jardim. Segundo ele, a cada cinco anos, é preciso podar árvores, até mesmo derrubar algumas delas, e deixar os resíduos no solo. São estes resíduos (galhos e folhagens, por exemplo) que espalham na superfície os nutrientes absorvidos, anteriormente, pelas raízes das árvores nas camadas profundas da terra.

— É importante ter áreas de luz direta e sombras na plantação. É aí que ajudamos, levando equipamentos adequados para o manejo e mostrando onde fazer — explica Barbosa.

A Associação Mico-Leão-Dourado funciona na reserva biológica de Poço das Antas, entre Silva Jardim e Casimiro de Abreu. O apoio aos agricultores surgiu para ajudar a entidade, que planeja garantir 25 mil hectares (o equivalente a cerca de 25 mil campos de futebol) de floresta integrada para a sobrevivência de dois mil micos ameaçados de extinção. Como a reserva tem 5.500 hectares, uma das soluções foi incentivar práticas sustentáveis entre os agricultores vizinhos, protegendo as árvores com prosperidade agrícola.

Adeildo Ataliba mostra um limão no pé em sítio – Agência O Globo

— Quando cheguei, há 20 anos, a terra era seca e o solo rachado, quase pedra. Depois que comecei a agrofloresta, mudou tudo. É este solo verde, de terra preta. Não precisa de enxada, você cava com o pé, de tão macio — descreve Adeílson Ataliba, de 63 anos, que dedica dois hectares de seu terreno, em Silva Jardim, ao cultivo de café, tangerina e palmito.

Cortar árvores da tão degradada Mata Atlântica pode parecer negativo, mas órgãos e ONGs ambientais dão força à prática feita de forma consciente. O Ministério do Meio Ambiente apoia agroflorestas em diferentes regiões. Em setembro de 2015, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) publicou uma resolução que regulamenta o manejo sustentável da floresta, para apoiar os SAFs em território fluminense.

Em Presidente Figueiredo, na Amazônia, uma nova parceria da Coca-Cola com a ONG Imaflora vai fornecer apoio técnico para adoção de sistemas agroflorestais a centenas de famílias que produzem o guaraná comprado pela multinacional.

 

As práticas agroflorestais são muito usadas para recuperar áreas desmatadas. Exemplo disto é a Fazendinha Agroecológica, em Seropédica. Parceria da Embrapa com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio (Pesagro), o projeto teve início nos anos 1990, numa área de 70 hectares. Espécies que precisam de mais nutrientes foram dispostas em fileiras, com frutíferas e madeireiras de valor comercial. Árvores de rápido crescimento foram colocadas junto a essas espécies “exigentes”, para dar sombra e material orgânico. Hoje, o terreno, coalhado de vegetais, serve de área de pesquisa e aprendizado para estudantes.

— A agrofloresta é uma alternativa de proteção ambiental, mas também uma reserva de segurança alimentar — diz o pesquisador Eduardo Campello, da Embrapa Agrobiologia, que trabalha no mapeamento das SAFs. — Já temos um questionário pronto e espero ter resultados desse projeto em breve.

O engenheiro agrônomo Claudemar Mattos, da ONG AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, é um ativista da causa. Ha 15 anos, ele foi a Barra do Turvo, em São Paulo, onde há uma atuante cooperativa de produtores agroflorestais, para trazer a experiência ao Estado do Rio. Segundo ele, no Norte, muitos índios só plantam com técnicas agroflorestais:

— As árvores conservam água, enriquecem o solo e dão sombra. São recicladoras do meio ambiente, que pode ser preservado com produtividade.

Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica

O desenvolvimento de modelos de produção agrícola de base ecológica tornou-se necessário para suprir a necessidade crescente de alimentos livres de resíduos tóxicos e ao mesmo tempo, respeitar os preceitos da sustentabilidade, da conservação do meio ambiente e do bem-estar do ser humano. A produção orgânica de hortaliças se enquadra neste contexto e no Brasil, cada vez mais, vem conquistando simpatizantes tanto na agricultura familiar como no seguimento empresarial formado por médios e grandes produtores rurais. Também é preconizada por políticas públicas direcionadas a hortas urbanas e periurbanas.

A transição agroecológica refere-se a um processo gradual de mudança na forma de manejo do agroecossistema, que envolve a passagem de um modelo agroquímico de produção, de alta dependência de insumos externos (fertilizantes
e agrotóxicos) para outro modelo de agricultura que incorpore princípios, métodos e tecnologias de base ecológica. As mudanças podem ocorrer em vários níveis: começando pela redução no uso de insumos convencionais; passando para a substituição de práticas e insumos convencionais por técnicas e insumos alternativos; e por fim, pela remodelagem de toda a propriedade conforme os princípios agroecológicos, com elevado aproveitamento dos processos naturais e interações ecológicas. Isto pode levar algum tempo, dependendo do tipo de manejo utilizado anteriormente na propriedade, das condições edafoclimáticas locais e das estratégias agroecológicas adotadas para construção do novo
modelo de produção agrícola. Nos primeiros anos de conversão para a agricultura orgânica, são comuns os surtos de pragas e isto ocorre porque os produtores deixaram de empregar agrotóxicos no manejo de pragas e ao mesmo, seu sistema agrícola não tem as defesas próprias de sistemas ecológicos amadurecidos. Apesar disso, várias medidas de controle mostram-se efetivas par proteção das plantas neste período de conversão, desde que adotadas de forma correta e dentro da concepção do manejo ecológico de pragas (MEP).

Com esta Circular Técnica pretende-se disponibilizar uma série de informações sobre pragas que atacam hortaliças e métodos para seu controle durante o período de conversão para o modelo de produção orgânica, de tal forma que os agricultores tenham subsídios para alcançar os estágios mais avançados da transição agroecológica e a sustentabilidade do seu processo produtivo.

Para baixar o artigo completo, visite:

http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/957535

 

Jornada de Agroecologia

O que é a Jornada? Quais são os objetivos?

As Jornadas de Agroecologia, iniciadas em 2002, constituíram-se num processo permanente de acúmulo de forças na luta contra os projetos das transnacionais do agronegócio. E os encontros anuais passaram a representar a síntese deste processo, consolidando-se como uma escola popular e camponesa permanente, renovada ao longo de cada ano nos territórios camponeses, assentamentos, acampamentos, pequenas propriedades familiares, escolas, cooperativas, povos tradicionais, posseiros, quilombolas, indígenas, pescadores, faxinalenses, ribeirinhos, mulheres, jovens.

É um espaço de estudo, de formação, de análise, de troca de experiências, de intercambio de sementes, de divulgação, de propaganda junto à sociedade daquilo que estamos construindo em torno do nosso projeto.  É um momento de buscar apoio, fazer alianças envolvendo o conjunto dos movimentos, organizações, forças sociais e políticas do meio rural e da cidade, na construção   do Projeto Popular e Soberano para a agricultura Brasileira com a matriz agroecológica.

Nestes últimos anos segue atraindo novas organizações de estudantes, de consumidores, de pesquisa e extensão rural e coletivos de várias universidades e escolas públicas. Seguem como um dos principais espaços para troca de experiências das ações que promovem a Agroecologia, tendo como lema central “Terra Livre de Transgênicos e Sem Agrotóxicos”. (Mais sobre a Jornada aqui).

2. Data e Local: 

A 15ª Jornada de Agroecologia será realizada de 27 a 30 de julho de 2016 na cidade da Lapa, região sul do Paraná.
Endereço: Parque de Exposições e Eventos da Lapa – Rodovia do Xisto, Lapa – PR.

Obs.: Mapa feito a partir da entrada da cidade da Lapa até o Parque.

Mapa para chegar no Parque de exposições da Lapa

3. Inscrição.

  • Para se inscrever e receber o material na Jornada de Agroecologia, cada participante deve se sentir comprometido e ser motivado para trazer para a Jornada sementes crioulas de todo tipo de plantas que tiverem; e mudas – pode ser de pastagem, de plantas de jardim e de vaso, medicinais, de cana de açúcar, de mandioca, rama de batata doce, tubérculos, frutas – limão, laranja, galhos de uva, e tantas outras plantas. Isso deve ser entendido como parte do KIT MILITANTE, para todos e todas!
  • Todos sabemos que a Jornada de Agroecologia é um processo permanente, que não se limita aos encontros anuais realizados, mas que se mantém em constante movimento no interior das comunidades que se desafiam a construir a Agroecologia de forma plena.

As realizações dos encontros anuais, é fruto de um amplo esforço coletivo das organizações e movimentos sociais, em possibilitar que milhares de pessoas, de todas as regiões do estado e diversos regiões do Brasil, possam durante 4 dias vivenciar e intercambiar diversidades de experiências e troca de saberes.

E no indicativo de ajudar na viabilidade das infinidades de demandas que um encontro como este apresenta, estamos convidando a cada participante da 15ª Jornada, a dentro das possibilidades, contribuir com a organização com o valor simbólico de R$10 reais por kit da Jornada (sacola, caderno, caneta, cartilha, e demais materiais pedagógicos). Esse recurso servirá para cobrir despesas operativas das equipes de trabalho durante todo o evento, desde combustível a material de infraestrutura, ornamentação e de escritório.

A contribuição é voluntária e não se trata de taxa de inscrição e não deverá limitar a participação das comunidades caso tenham dificuldade de viabilizar.

Esperamos a compreensão de todas e todos e estamos à disposição para mais informações.

Não é necessária inscrição antecipada, porém importante comunicar a organização da jornada quanto a participação de grandes grupos, delegações, excursões, para fins de antecipações de infraestrutura.

  • A inscrição será feita no primeiro dia da Jornada. Não serão feitas inscrições antecipadas.4. Acampamento da Jornada:
  • O acampamento da 15ª Jornada será organizado em grandes espaços fechados: ginásios e galpões. Também será disponibilizado espaços descobertos para montagem de pequenas barracas pessoais (familiares/individuais). Traga-as. Todos serão coletivos. No local teremos uma equipe que orientará o público e destinará aos espaços de alojamento.
  • Na região sul do Paraná faz bastante frio e chuva, então é importante trazer roupa adequada para esse clima (botas, meias, casacos, calças, tocas, luvas, cachecol, guarda chuva e capas de chuva).

5. Como se organizar para participar da Jornada:

  • Articule em sua comunidade, no seu município, junto aos sindicatos, as universidades, os movimentos da Via Campesina, às brigadas do MST, a Fetraf, a Assesoar, aos grupos de Economia Solidaria, ao Cefuria, as Paroquias, um ônibus para o transporte dos interessados, estudantes, professores, pesquisadores, teóricos, funcionários da saúde e da agricultura;
  • Cada ônibus deverá trazer sua cozinha: fogão, gás, utensílios de cozinha, sua alimentação necessária para os dias do evento; para o público que não vier em deleções, haverá local para comprar comida, ou poderá se organizar junto a uma delegação.
  • Cada participante deverá trazer seu kit militante: colchão, cobertor, material de higiene pessoal, prato, copo, talheres, materiais e símbolos de sua organização;
  • Tragam seus símbolos de luta, bandeiras, bonés, camisetas, faixas, banners, para divulgação de suas organizações e para ornamentação do espaço;

6. Intercâmbio da Agrobiodiversidade – troca e resgate de Sementes Crioulas:

  • Estamos trabalhando para resgatar e fortalecer o cultivo das variedades crioulas em nossos territórios. Temos trabalhado na perspectiva de incorporar, em cada participante da Jornada de Agroecologia, a mística dos “Guardiões da Biodiversidade”, para isso, pedimos especial atenção aos encaminhamentos que seguem:
  • Cada participante deve se sentir comprometido e ser motivado para TRAZER para a Jornada sementes crioulas de todo tipo de plantas que tiverem; e mudas – pode ser de pastagem, de plantas de jardim e de vaso, medicinais, de cana de açúcar, de mandioca, rama de batata doce, tubérculos, frutas – limão, laranja, galhos de uva, e tantas outras plantas. Isso deve ser entendido como parte do KIT MILITANTE, para todos e todas!
  • Desde o primeiro dia da Jornada – 27 de julho, no credenciamento, uma equipe estará recebendo e fazendo um cadastro das sementes e outros materiais da biodiversidade e Agrobiodiversidade e levantando as quantidades que haverá para troca.

7. Oficinas de troca de experiências:

  • As oficinas este ano acontecerão em sua grande maioria nas áreas de produção e experimentação, como: PA Contestado; IAPAR da Lapa; Centro Paranaense de Referência em Agroecologia – CPRA, em Pinhais; Caracol, comunidade do município da Lapa; Abai, em Mandirituba; e no próprio Parque;
  • Temas que serão trabalhados: Agrofloresta; Bioenergia; Homeopatia; Caldas; Morango Orgânico; Manejo e podas em Pomar; Pigmento Natural; Tela de Sementes; Arte e Cultura na Agroecologia, Certificação participativa; produção de leite em base agroecológica; bambu, Abelhas sem ferrão; hortaliças; enxertia e poda em frutíferas; criação de búfalos orgânicos; frutíferas de inverno; compostagem; minhocário; produção de queijos; produção de erva-mate; educação ambiental (trilha ecológica e proteção de nascentes); plantas medicinais; boas práticas agrícolas (maquinário para agricultura familiar) e RPPN em Assentamentos.

As inscrições serão realizadas na manhã do primeiro dia da jornada, haverá uma quantidade por oficina para as delegações se organizarem

8. Seminários temáticos:

Acontecerão dia 29 de julho conforme a programação em anexo. As inscrições também serão realizadas por vagas por delegação e casos individuais no credenciamento da jornada já a partir do primeiro dia. Os temas e locais estão descritos na programação.

9. Feira de Sementes e Produtos da Reforma Agrária e da Agricultura Familiar e Camponesa.

  • Local: Parque de Exposição da Lapa– PR.
  • A feira da Jornada cumpre um papel de diálogo permanente com os participantes e visitantes. Estamos construindo para que, como parte da programação da jornada, a feira seja um ambiente de fazer a propaganda, comercializar, expressar nossas pautas, o conjunto de nossos projetos, experiências.
  • Nossa tarefa é garantir diversidade, quantidade, com capacidade para todos os dias da jornada, com praça de alimentação, artesanato, medicinais, mudas, sementes (comercialização), agroindustrializados, in natura; estandes dos parceiros; materiais pedagógicos; atividades culturais;

 10. Ciranda Infantil:

Também como um espaço pedagógico e de trabalho com as crianças. Haverá um espaço dentro das estruturas do parque. Para cada 4 crianças trazer um educador para contribuir nas tarefas.

11. Túnel do Tempo.

“Túnel do Tempo: “100 anos da Guerra do Contestado”- Aberto ao público em geral.

12. Saúde:

Haverá um espaço de atendimento; devemos motivar nossos médicos e agentes de saúde na tarefa. Preparar também para a feira um amplo espaço para exposição dos métodos alternativos de saúde e cuidados coletivos;

 13. Mais informações, dúvidas, sugestões aqui.

 Coordenação da Jornada de Agroecologia!

Um atlas de nossa agricultura envenenada

Os mapas produzidos por Larissa Mies Bombardi são chocantes. Quando você acha que já chegou ao fundo do poço, a professora de Geografia Agrária da USP passa para o mapa seguinte. E, acredite, o que era ruim fica pior. Mortes por intoxicação, mortes por suicídio, outras intoxicações causadas pelos agrotóxicos no Brasil. A pesquisadora reuniu os dados sobre os venenos agrícolas em uma sequência cartográfica que dá dimensão complexa a um problema pouco debatido no país.

Ver os mapas, porém, não é enxergar o todo: o Brasil tem um antigo problema de subnotificação de intoxicação por agrotóxicos. Muitas pessoas não chegam a procurar o Sistema Único de Saúde (SUS); muitos profissionais ignoram os sintomas provocados pelos venenos, que muitas vezes se confundem com doenças corriqueiras. Nos cálculos de quem atua na área, se tivemos 25 mil pessoas atingidas entre 2007 e 2014, multiplica-se o número por 50 e chega-se mais próximo da realidade: 1,25 milhão de casos em sete anos.

Além disso, Larissa leva em conta os registros do Ministério da Saúde para enfermidades agudas, ou seja, aquelas direta e imediatamente conectadas aos agrotóxicos. As doenças crônicas, aquelas provocadas por anos e anos de exposição aos venenos, entre as quais o câncer, ficam de fora dos cálculos. “Esses dados mostram apenas a ponta do iceberg”, diz ela.

Ainda assim, são chocantes. O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos, posto roubado dos Estados Unidos na década passada e ao qual seguimos aferrados com unhas e dentes. A cada brasileiro cabe uma média de 5,2 litros de venenos por ano, o equivalente a duas garrafas e meia de refrigerante, ou a 14 latas de cerveja.

Em breve, todo o material reunido por Larissa será público. O livro Geografia sobre o uso de agrotóxicos no Brasil é uma espécie de atlas sobre o tema, com previsão de lançamento para o segundo semestre. Será um desenvolvimento do Pequeno Ensaio Cartográfico Sobre o Uso de Agrotóxicos no Brasil, já lançado este ano, com dados atualizados e mais detalhados. No período abrangido pela pesquisa, 2007-2014, foram 1.186 mortes diretamente relacionadas aos venenos. Ou uma a cada dois dias e meio:

“Isso é inaceitável. Num pacto de civilidade, que já era hora de termos, como a gente fala com tanta tranquilidade em avanço de agronegócio, de permitir pulverização aérea, se é diante desse quadro que a gente está vivendo?”, indaga a professora, em entrevista no último dia 28 ao De Olho nos Ruralistas.

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O papel do agronegócio
Larissa fala de agronegócio porque é exatamente esse modelo o principal responsável pelas pulverizações. Os mapas mostram que a concentração dos casos de intoxicação coincide com as regiões onde estão as principais culturas do agronegócio no Brasil, como a soja, o milho e a cana de açúcar no Centro-Oeste, Sul e Sudeste. No Nordeste, por exemplo, a fruticultura. A divisão por Unidades da Federação e até por municípios comprovam com exatidão essa conexão.

A pesquisadora compara a relação dos brasileiros com agrotóxicos à maneira como os moradores dos Estados Unidos lidam com as armas: aceitamos correr um risco enorme. Quando se olha para um dos mapas, salta à vista a proporção entre suicídio e agrotóxicos. Em parte, explica Larissa, isso se deve ao fato de que estes casos são inescapavelmente registrados pelos órgãos públicos, ao passo que outros tipos de ocorrências escapam com mais facilidade. Mas, ainda assim, não é possível desconsiderar a maneira como distúrbios neurológicos são criados pelo uso intensivo dos chamados “defensivos agrícolas”, termo que a indústria utiliza para tentar atenuar os efeitos negativos das substâncias.

Soja, milho e cana, nesta ordem, comandam as aplicações. Uma relação exposta no mapa, que mostra um grande cinturão de intoxicações no centro-sul do país. São Paulo e Paraná aparecem em destaque em qualquer dos mapas, mas a professora adverte que não se pode desconsiderar a subnotificação no Mato Grosso, celeiro do agronegócio no século 21.

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O veneno está na cidade

A conversa com o De Olho nos Ruralistas – durante gravação do piloto de um programa de TV pela internet – se deu em meio a algumas circunstâncias pouco alvissareiras para quem atua na área. Há alguns dias, a Rede Globo tem veiculado em um de seus espaços mais nobres, o intervalo do Jornal Nacional, uma campanha em favor do “agro”. Os vídeos institucionais têm um tom raríssimo na emissora da família Marinho, com defesa rasgada dos produtores rurais de grande porte.

“Querem substituir a ideia do latifúndio como atraso”, resume Larissa. Ela recorda que, além do tema dos agrotóxicos, o agronegócio é o responsável por trabalho escravo e desmatamento. E questiona a transformação do setor agroexportador em modelo de nação. “A alternativa que almejaríamos seria a construção de uma outra sociedade em que esse tipo de insumo não fosse utilizado. Almejamos uma agricultura agroecológica com base em uma ampla reforma agrária que revolucione essa forma de estar na sociedade.”

No mesmo dia da entrevista, o Diário Oficial da União trouxe a sanção, pelo presidente provisório, Michel Temer, da Lei 13.301. Em meio a uma série de iniciativas de combate à dengue e à zika, a legislação traz a autorização para que se realize pulverização aérea de venenos em cidades, sob o pretexto de combate ao mosquito Aedes aegypti. A medida recebeu parecer contrário do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, posição que foi ignorada por Temer.160702-Agrotóxicos3.png

Larissa considera que a medida representa um grande retrocesso e demonstra preocupação pelo fato de a realidade exposta em seus mapas ser elevada a potências ainda desconhecidas quando se transfere um problema rural para as cidades. “O agrotóxico se dispersa pelo ar, vai contaminar o solo, vai contaminar a água. O agrotóxico não desaparece. Ao contrário, ele permanece.” Em outras palavras: o veneno voa e mergulha. Alastra-se. E tem longa duração.

Por João Peres
Do De Olho nos Ruralistas

*Editado or Rafael Soriano

 

Curso Técnico em Gestão de Organizações Rurais e Cooperatismo

O CEAGRO esteve representado na realização da terceira etapa do curso Técnico em Gestão de Organizações Rurais e Cooperatismo – Residência Jovem, no Instituto de Ciências Agrárias da UFMG em Montes Claros/MG, ministrando a disciplina de Gestão de Cooperativas nos dias 11, 12 e 13 de julho. A turma é composta por 35 jovens que atuam em cooperativas e associações da reforma agrária nas regiões Norte e Noroeste de Minas, Distrito Federal e Goiás.

IV Feira Regional da Economia Solidária e Agroecológica – FESA

Serão mais de 20 grupos de agricultores e agricultoras entre assentados, acampados, pequenos agricultores e cooperativas, comercializando diversos produtos agroecológicos como hortaliças, frutas, raízes, tubérculos, grãos, leite, ovos, doces, panifícios, sucos, entre outros produtos.

Nesta quarta edição da FESA estima-se que aproximadamente 3 mil trabalhadores do campo e da cidade circulem pelos espaços da feira. Além da comercialização dos produtos também haverá a troca de sementes crioulas agroecológicas, um dos pontos altos da atividade.

Durante a FESA também ocorrerão 12 oficinas gratuitas, entre elas: campanha contra os agrotóxicos, aproveitamento de alimentos, compostagem caseira, puff de pneu, vinho de laranja, comunicação popular, economia solidária, sementes crioulas, entre outras.

Quem passar pela feira poderá assistir apresentações culturais com a participação do o coral da UFFS, a banda municipal de Laranjeiras do Sul e os grupos de dança CTG Rincão Serrano e Black Heart..

Os participantes também poderão trazer agasalhos, casacos e cobertores para contribuir na campanha do agasalho!

A FESA é organizada pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia- CEAGRO, MST, Núcleo Regional da Rede Ecovida de Agroecologia Luta Camponesa em parceria com a Universidade Federal da Fronteira Sul- UFFS, Núcleo de Estudos Avançados em Agroecologia – NEA-Cantuquiriguaçu, Núcleo de Estudos em Cooperativismo – NECOOP e o Programa de Educação Tutorial -PET, Fundação MUNDUKIDE, Tractebel Energia e Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES. A estrutura será cedida pela prefeitura municipal de Laranjeiras do Sul.

Para mais informações:
42-3635-4329
agroecologia@ceagro.org
boza.christiano@yahoo.com.br

cartaz finalSerá realizada no dia 21 de maio/ das 8h30 às 16:00 na praça central de Laranjeiras do Sul a IV Feira Regional da Economia Solidária e Agroecológica – FESA.

Oficina de Processamento de Picolé Agroflorestal

O CEAGRO, através do Projeto Ecoforte e SENAES, em parceria com a UFFS Campus de Laranjeiras do Sul e do Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia realizaram no dia 03/06/2016 a Oficina: PROCESSAMENTO DE PICOLÉ AGROECOLÓGICO DE LIMÃO E LARANJA CAIPIRA. O evento contou com a presença de 15 GRUPOS certificados como Agroecológico ou em transição dos Territórios da Cidadania Cantuquiriguaçu e Paraná Centro.

Na Oficina foram elaboradas receitas de Picolé de Laranja e Limão Crioulo e distribuído um “Kit de Processamento de Picolés” contendo formas, embalagens e palitos.

Agora, os Grupos irão replicar o processos em suas unidades familiares buscando priorizar o autoconsumo e comercializar o excedente nos mercados próximos como feiras, entregas diretas e eventos.